Vou contar uma história que embora os nomes não sejam os
mesmos, mas sesta calcada e inspirada em fatos reais.
João do Gueto, mais precisamente de Itaquera, sonhava desde
pequeno com uma piscina olímpica e de ao menos 50 metros, mas que era separada
por entre gêneros, masculina e feminina, mas tudo não passava de um sonho de uma
criança pobre da periferia que ao dormir sempre sonhava que podia voar e assim
chegar a lugares nunca dantes imaginados.
Nascera na noite mais fria de 1963 e por coincidência numérica
ou não depois de 20 anos, mais precisamente 1983, ingressou em uma Universidade
pública de São Paulo, e para a sua grande surpresa, a piscina que em sonho
imaginara existir era real e fazia parte do clube esportivo desta Universidade,
mas ao contrario da separação entre homens e mulheres, a liberdade por ali era
total, e lindas estudantes para seu deleite e quase como um colírio para seus
inocentes e quase virgem olhares, nadavam nuas nas piscinas como se ali mesmo
fosse o paraíso e o pecado ainda não existia. Eram tempos finais de uma
ditadura militar e esta mesma Universidade pública, nem portaria sequer ainda
tinha.
A raia era
frequentada por pobres moradores da favela ao lado que pescavam e nadavam na
mesma, pois como já lhes disse, esta Universidade era pública, o que hoje,
cercado por muros e fortemente militarizados e vigiados, já não mais o é, e o
que era público se tornou privado e exclusividade das classes mais abastadas e
ricas desta cidade.
O reitor na época que apesar de ter sido nomeado pela
ditadura, dentro da Universidade agia como um verdadeiro democrata, E assim
dizia, prendo e bato e irei fazer deste lugar uma verdadeira democracia,
queiram ou não vocês. Prendiam e batiam apenas fora da Universidade e dentro
dela reinava por incrível que pareça um clima de total liberdade e respeito aos
estudantes.
Era um reitor dito por todos de direita, mas que tinha em
seu nome a palavra Paz.
Bons tempos aqueles!
Mas um dia, quando a ditadura militar caiu, com a pressão de
um grande líder sindical que desafiou a Lei de Segurança Nacional e inspirou a
todos nós, estudantes, operários e camponeses a se organizarem e pacificamente
lutarem contra um regime autoritário que já cumprira o seu papel e estava na
hora de dar espaço a outros e de preferência não fardados;
Finalmente em 1985, caiu à ditadura miliar no Brasil e a
Nova República apesar de ter a frente um presidente civil, não atendeu ao
clamor do povo que desejava eleições diretas Já, mas por uma decisão de cúpula
e das lideranças partidárias, a eleição foi indireta para presidente e a Nova
República que estava nascendo, na verdade foi para nós, estudantes pobres da
periferia e que necessitam morar na casa de estudante desta Universidade, pois
seus pais eram de origem humilde e que não podia pagar a ele uma república
particular e na época Itaquera era quase que tão longe e por deveras muito
distante, não existia metro e o trem e o buzão, demoravam no mínimo duas horas
para chegar e mais duas para voltar, ou seja, passava mais tempo na condução do
que na faculdade.
E assim resolveu que desta maneira não dava não e aproveitou
uma invasão, ou melhor, ocupação dos estudantes na moradia para fazer valer a
justiça social e finalmente ter a sua parte no bolo,
De 1983 até a Nova Republica aprendeu mito estudou por
demais e amou todas as lindas estudantes que pode conquistas, mas ei ai que
chegou nuvens negras, anunciando uma tempestade de violência e terror que
estava por vir.
Foi nomeado para reitor desta tal Universidade, um homem com
passado de esquerda, mas que em pouco tempo mostrou a que veio, criando sua
própria guarda pretoriana, como um tirano ou imperador romano e assim este
mesmo iniciou um processo de militarização e privatização desta tal
Universidade que deveria servir aqueles que como eu não podia pagar uma
faculdade privada e que por ser um estudante comprovadamente carente
necessitava morar nesta moradia para poder terminar os seus estudos.
E como todo gestor de origem e formação stalinista, iniciou
um processo de expurgo e perseguição a aqueles que não rezavam o seu credo e
nem ao ele diziam Amem e assim se fez uma reintegração de posse, militarizada e
violenta e que penalizou este pobre professor que hoje sou, mas que lutou até o
ultimo minuto por um dia ter acreditado que a democracia chegaria com o final
do militarismo.
Doce ilusão de um inocente útil que um dia fui eu.
E para o mais engraçado desta história, hoje as vésperas da
Copa do mundo São eles os militares de antes, mas que hoje para mim é o que
sempre acreditei quando de menino, nosso glorioso exército nacional e através
de uma presidente legitimamente democrática, mas que para garantir a paz e a
segurança dos verdadeiros brasileiros que apenas querem curtir e torcer em paz
pela nossa seleção e se não fosse pela intervenção do governo federal e do
nosso glorioso e patriótico exercito nacional, que hoje vem às ruas não para
reprimir, mas sim para garantir a integridade e a liberdade daqueles que
realmente são os verdadeiros brasileiros.
Isto é para mim um verdadeiro paradoxo da história, mas quem
disse que ela nossa eterna musa a bela e inspiradora Clio, não pensa e assim
funciona.
João do Gueto
OBS: Só escrevi isto hoje, porque um fantasma deste meu
passado que pensara estar enterrado, saiu de sua tumba para me assombrar na
televisão e me fazer perder meu apetite e não conseguir comer uma deliciosa
pizza. Que os fantasmas retornem as sua sepulturas e nos deixem viver hoje e
poder ser feliz.