quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A SAGA DE JESUS MENINO




LICENÇA POÉTICA



 



 



segunda-feira, 7 de dezembro de 2014





JESUS MENINO

 

I-

Jesus nasceu na favela do Jaguaré

 

Seu nome completo era

 

Jesus da Silva e de Nazaré

 

Ele nasceu em uma favela

Mas se criou em outra

 

A favela do Sapé

 

Pois sua comunidade ou favela do Jaguaré

 

Já não é a mesma

 

Pois a vida de um bandido

 

Pobre e ralé

não vale nem mais

que um parco tostão

 

Então foi melhor mudar-se

 

De mala, Cuias e UM três oitão.

Na mão.

 

Para uma quebrada bem mais quente

 

Comunidade mais pobre e carente

 

De toda esta cidade tão grande

 

E cruel

 

II-

 

Do Sapé ao inferninho

 

Na comunidade do Sape

 

Jesus menino

 

Cresceu

Sem eira e nenhum destino

 

Ou melhor

 

O seu encontro marcado

 

Com a Morte

Sabia à hora e a configuração

Das estrelas

 

Mas quem sabe

 

Ir ao encontra dela

 

Não seria transformar

 

Sua própria vida

 

Sua amarga e cruel sorte.

 

III-

 

Cresceu como todo sadio

 

Quase que vadio menino

De comunidade da periferia

 

Do samba e de Sampa

 

Correndo atrás de pipa e passarinho

 

E seguindo os conselhos

 

Dos mais velhos

 

Bom Jesus menino.

 

 

 

IV-

 

Sua mãe sempre dizia

 

Jesus menino:

Não se envolva com o mal

 

O crime que não compensa

 

Comparsas das trevas

 

Cobras e serpentes peçonhentas

 

Sempre o chamarão para

 

Paradas erradas

 

E seu destino

 

Jesus menino

 

É libertar o seu povo

 

De uma escravidão moderna

 

Quebradas

 

Comunidades

 

Favelas.

 

 

V-

 

Sabia que havia nascido

 

Diferente de todos os amigos

 

Toda a sua tão pobre e inteligente

 

Gente e parentes.

 

Quando era provocado

 

Sua ira era tanta

 

Quase que Santa

 

Gritava alto

 

Tal qual o mais estrondoso trovão

 

E a natureza respondia

 

Ao seu comando

 

Sua vontade de Jesus menino

 

Dono do mais trágico dos destinos.

 

 

 

VI-

 

Cordeiro de Deus

 

Que tirai os pecados do mundo

 

Proteja e faça crescer

 

Jesus menino

 

Pois seu Pai

 

Enviou-nos para a todos

 

nós salvar;

 

E limpar da Terra

 

Sua mãe Gaia

 

De Todo mal ancestral

 

Terra sagrada

 

Mais batizada e irrigada

 

Com o sangue dos inocentes.

 

Por um demônio do capital

 

Babilônico Baal.

 

VII

 

Jesus menino

 

Não tinha irmãos de sangue

 

Elias seu primo

 

Mais velho do que Jesus menino

 

Cumpria esse papel

 

Amigo fiel

 

Irmão protetor.

 

 

 

 

 

 

 

VIII-

 

Seu primo Elias

Escrevia versos e prosa

Sem caneta

Lápis

Ou computador

Era pastor de ovelhas

E homens

E sua maior habilidade

Era servir a Deus

E identificar e matar lobisomens

Que muitos acreditam

Ser um mito

Mas existe

E saibam que eu acredito.



IX-

Quando bem meninos

Menino Jesus e seu primo

iam nadar

e brincar

Na raia olímpica da USP

pois naquela época

idos dos anos 80

esta universidade pública

era realmente da gente

sem muros

portarias

e como era bom

nadar na raia

e pescar no escuro.

 



XIV-

 

 

Jesus menino

Por ser pobre

De origem nordestina

E negro

Morando na favela

Sofria diariamente preconceito

De pseudo-s brancos

Falsos e pobres ricos

E paulistanos

Se achando nobres.

Chorava todo dia

De raiva e pela injustiça

Mas por dentro sabia

Ser ele o salvador

Pois seu nome era

Menino Jesus.

 

 

 

 

 

 

XV-

Quando estava muito triste

E chorava em parco e pobre barraco

Sabia que Deus

Seu pai

Sempre o ouvia

Isto era o seu consolo

Da sua condição de pobreza

Miséria e total abandono

Seu pai vigia noturno

Em casa não estava

Trabalhava a noite

E toda madrugada

Sua costurava para fora

A fim de complementar

Pobre salário

Do seu José

E sua mãe Maria

O protegia

Seja de noite

Seja de dia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



XVI-

 

Quando Jesus menino

Completou nove anos

Ganhou um presente de grego

Não de Deus

Pois o acontecimento

Marcou sua vida para sempre

E assim mais uma vez

Menino Jesus chorou;

E sua alma de menino

Eternamente se calou.

 

 

XVII-

Em uma perseguição

Policial a um

Foragido e bandido local

Por engano, ou melhor, destino.

Jesus menino

Viu seus pais assassinados

Por guardas romanos

E muito bem armados

E lágrimas de sangue

Correram em sua face

E para todo o sempre

 

Seu coração

 

Sangrou.

XVIII-

 

Para o Jesus menino

 

O mundo acabou

 

Neste exato instante

 

Neste mesmo preciso
Momento e segundo
Gritou como se fosse explodir
E para que todo o mundo
O escutasse
E em forma de prece
A mais sincera oração
Perguntou aos céus
A Deus!
O seu verdadeiro pai
Por que senhor, eu.
Seu filho
Menino Jesus.

XIX-
Seu pai nos céus
Ouviu seu grito de dor
E desespero
E Javeh jamais
Abandona
Ou abandonará
Qualquer um dos seus filhos
Que são tantos
E, portanto
A menino Jesus
Seu filho predileto
Mandou um imenso
RELAMPAGO
E estrondoso trovão
Mesmo sem ter
Uma nuvem qualquer
No céu
Seu berço
Nosso melhor
E definitivo
chapéu.


XX-
Deus ouviu
E resolveu ajudar
Jesus menino
Pois os romanos
Tinham cometido um ledo
E cruel engano

E a responsabilidade por tudo acontecido

Foi dos fariseus

Falsos homens bons

Que queriam

responsabilizá-lo

por algo não cometido

Pois o verdadeiro
fascinora e bandido
O bandido morava
Morava ao lado do seu barraco
confundido e delatado

por maldito e hipócrita fariseu
Sendo que uma arma do seu pai
Foi achada
Os romanos não tiveram culpa
Era seu cruel
Destino de Jesus menino

XXI- Jesus menino
Em sua maior
E cruel dor
Não ficou só
Pois seu pai nos céus
Teve dó
E resolveu mandar
O anjo da anunciação
Gabriel arcanjo
Para seguir seus passos
E protegê-lo e integralmente ser
Seu melhor amigo
Melhor vigia
Seja de noite
Seja de dia.

XXII
E o anjo da anunciação passou a ser seu melhor amigo espiritual irmão e consolava o martirio de Jesus menino inspirando seu sonhos fazendo-o voar com suas asas e conhecer toda a cidade e até o mundo em apenas um único sonho e em não mais do que trinta segundos.
JOÃO DO GUETO.

XXIII-

Jesus menino Órfão mas com Seu melhor amigo Sempre ao seu lado Foi acolhido pelo Estado E levado para uma unidade De crianças pobres e órfãs E saibam vocês que não era Tal ruim assim como diziam alguns Pois agora tinha ao menos três refeições Jantar, almoço e café-da-manhã O que antes raramente tinha.

     

XXIV-
 
Quando estudava
em uma escola local
da rede municipal deste

grande e cruel metrópole

Gostava de ler historias fantásticas

E Monteiro Lobato era suas historias prediletas

E por coincidência ou muita sorte

Nesta unidade do Estado que o acolhera

Havia toda a coleção deste grande mestre

e assim seu sofrimento e solidão por perder seus pais

foi suprido na leitura diária destes livros

Um santo remédio e o mais seguro de todos os refúgios.
XXV-
Sete anos se passaram
E agora Jesus menino
Era um adolescente
Pobre e carente
Mas cheio de idéias
Para compartilhar
E assim ajudar
A sua comunidade de origem
E sua lembrança
Já não mais lhe causava vertigem
A ferida e em seu corpo cicatrizara
Mas em sua alma
O fato fatídico
Ainda restara
Em  cheiro , som e imagem.

XXVI-
Para acabar com todo o mal
Que um dia lhe aconteceu
Jesus menino encontrou
A melhor de todas as soluções
Voar pelo com asas de um anjo
Enquanto dormia.
Conhecer todos os povos
Culturas e línguas
Enquanto sonhando acordado
De olhos bem abertos
Sentidos apurados
Simplesmente lia.
XXVII-

Nem tudo era um bom sonho
Na vida de Jesus menino
Seu trágico e cruel destino
Ainda não se revelou inteiramente.
Apesar de ser bom em quase tudo
Que se propunha a realizar
Era sempre preterido por alguém
Na hora de seu premio ganhar
Geralmente um garoto loiro
E de lindos olhos azuis.
Para ser notado e reconhecido
Era preciso ser muito, mais muito
Melhor do que os outros
E mesmo assim
Seu tormento e maior preconceito
Nunca em sua vida
Teve fim.
XXVIII-
Um dia desses qualquer
Mas que passou a ser um
Importante e inesquecível dia
Assistiu a um filme na televisão
Que lhe uma grande idéia
Ampliando seus horizontes
E sua já agudíssima visão:
Ao mestre com carinho
Aonde o protagonista e herói
Dessa linda e romântica história
Não era mais um branco ou alemão
Mas sim um raro e especialíssimo negão
A encantar a tudo e a todos
A partir daí tomou a sua decisão
O que ser e como fazer
Para mudar seu mundo e dos seus irmãos. XXIX-
o preconceito no Brasil
tem história
Caberá a nós
Buscar sua origem
Explicá-lo
E matá-lo
Como cobra serpente
Peçonhenta e vil
Começa com a escravidão
Primeiro do índio
Depois do negro africano
E mostra-lo será meu dever
E não colocá-lo para debaixo do pano. XXX-
  A escravidão do passado ainda reflete no preconceito de hoje outrora escravo mercadoria objeto de compra e venda Agora a moderna escravidão Só tem uma e única razão A grande desigualdade social que separa os pobres dos ricos os muros separam e só tendem a crescer mas quem sabe Jesus menino possa a todos convencer que somos todos iguais perante a lei dos homens e de Deus Rico, pobres ou plebeus.
XXXI-

 
Deus criou o homem
A sua igual e própria semelhança
Jesus criança
É a síntese e o compêndio
De todas as virtudes humanas
Mas como Caim matou Abel
Há algo de lobo e predador
No ser humano.
As línguas separaram o homem
Judeu, negro e italiano
Alemão, japonês e chinês
A causa deste mal
Ou melhor]
A segregação natural
Não é de Caim ou Abel
E sim da maldita Torre de Babel.
XXXII-
Nos últimos dez anos
Muitas coisas mudaram no Brasil
E para melhor
Tal qual
Bolsa família
Nossa casa nossa vida
Prouni e etc...
Mas a desigualdade e o racismo
Tem raízes histórias
E se houve avanços e melhorias
Muito ainda precisa mudar
XXXIII-
Pois ainda por aqui
A Justiça só vale
Para os três Pés
Preto, pobre e puta
Lema que vem
Dos tempos
da escravidão
quando os três P
era assim aos escravos
Pano, Pau e Pão
XXXIV-
O pão era o que o diabo amassou
O pau era o pelourinho
E os castigos brutais
E o pano era
Uma única peça
De roupa
Pano de saco
E que logo virava farrapo.
João do Gueto
XXXV-
A história oficial
A verdade unicamente factual
Diz que:
Em um iluminado dia
Nossa querida e amada princesa
Acordou inspirada e mui bem
Abençoada
E com o lápis
Assinou a lei Áurea
Pois na realidade
O escravo quase liberto
Não teve muita
Ou qualquer escolha
Saiu correndo da Senzala
E cansado de tanto
Correr e andar
Parou no Rio de Janeiro
E assim criou e fundou
A primeiríssima Favela.
O MORRO DA FAVELA.
XXVI-
Mas vamos voltar ao início de tudo
Da historia dos homens
Segundo a teoria criacionista
Deus criou a luz
Sendo o principio de Tudo
O demônio criou a escuridão
Por inveja e fraqueza
XXVII-
Mas o senhor de tudo e todos
Inclusive deste cão danado de malvadez
Mandou-o eternamente
Para as profundezas do inferno
Onde ate hoje arde no fogo escuro frio
Fruto da sua própria ruindade
E invejosa criação
XXVIII-
Resumindo em poucas
Mas tão precisa palavras
Deus acende a luz
O demônio desliga o interruptor.
Mas Deus que é maior do que tudo
Assim falou
FIAT LUX
XXIX-
Mas deixemos os primórdios de lado
E vamos retornar a história de Jesus menino
Uma criança divina
Tal qual o Dalai-lama
Só que com os pés descalços
Morador de uma comunidade pobre e carente
Quebrada forte, violenta e boca quente.
Um deus menino sem pai nem mãe.
E nesta história com o pé-na-lama.
XXX-
Quando vem chegando o Natal
As ruas se enfeitam
As janelas se iluminam
Só Jesus menino
que não fica contente
Pois no meio de tanta felicidade
coloridos e inúmeros presentes
Não sobra nenhum ou melhor
ninguém se lembra dos pobres e carentes
Feito ele: Jesus menino.
XXXI-
Por ter agora quinze anos
Jesus menino não é mais criança
Mas seus sonhos e desejos secretos
São os mesmo de quando seu coração sangrou
Muitos pedem por dinheiro e presentes caros
Jesus menino apenas queria
poder voltar no tempo
E avisar os seus pais
para saírem dali
e assim poder agora
Abraçá-los como sempre
fazia na noite de natal.
Pobre e em um barraco
De mais uma favela
Da periferia, mas quente
amorosa e feliz por sentir
o calor e o amor
de seus entes mais queridos
e para sempre perdidos.
XXXII-
Mas apesar de toda esta tristeza
Jesus menino sabe muito bem
E tem a total certeza
De que seu pai lá no céu
É mais do que justo
Pois como tem a todos nós
Como seus filhos e iguais.
XXXIII-
No final da vida terrena
Que é tão breve e tão pequena
Cada um terá a sua recompensa
Pois o trem chega e chegará para todos
E somente embarca nele
Quem nesta vida fez o bem
E fica mal e estacionado na estação
Que somente por aqui fez malvadeza
Disso ele tem a total
Ou melhor, quase certeza.



XXXIV-








Para que Jesus menino




Pudesse ter nascido




Algo anterior




Foi preciso




Ter acontecido


Ou melhor


O pai do seu pai


Meu avô Belmiro


Precisou existir


E eu vou contar


Um pouquinho


De sua história


E com deixá-lo


Para sempre vivo


Em, nossa memória.



XXXV-



Belmiro Rocha


Seu avô baiano


Nasceu um ano depois


Da Abolição da escravatura


Da assinatura da Lei Áurea.


Nasceu livre no papel


Mas na realidade


Ainda servia aos seus antigos donos.


Fazia o papel de garoto de recado


E como na época não existia a telefonia


E muito menos o celular


Não aparecera


O que havia para tal serviço


Era o “molecular”.













XXXVI-


Assim era passado o recado


De um lado para o outro.


Moleque, leve o bilhete lá


Mo leque la pra cá


Mo leque la pra lá.


E lá ia o menino Belmiro


Correndo e quase voando


E parecendo ter asas no pé


Tal qual um Deus grego


Mais rápido que o vento.


Hermes pretinho e baiano.



XXXVII-



Quando Belmiro menino


Completou quinze anos,


Resolveu partir dali


E tentar a sorte ou


Encontrar a morte no sul


Aonde havia trabalho


Para ex escravos ou


Filhos meninos da escravidão


No Rio de Janeiro


Então capital do país.



XXXVIII-




Podia arrumar serviço no cais do porto


Em direção ao Vale do Paraíba


E interior de São Paulo


Seus pés, persistência e muita fé


O levaram até São Carlos do Pinhal


Cidade de fazendas de café


Aonde arrumou trabalho


Depois de dois anos


Caminhando a sonhar


Com Novos e bons tempos


Em sua via cruxis a pé



LVIII-

Romeu e Julieta
É talvez a historia
 de amor trágico
e impossível
mais conhecida
 do mundo

LIX-

Belmiro Rocha
E Teresa de Guzzi
E talvez o drama
 de amor
menos conhecido
 também do mundo



LX-

Mas essa historia
 não trágica
 mas dramáticA
Como já disse antes
 não tem RUIM final
 mas sim
Um  feliz FINAL
 e  ESTAhistoria
TAMBÉM se encerra
Em São Carlos
Do Pinhal.























 
 














 





 

 
 
 

 

 


 

 



 

 







LXI-

 

Ao lembrar-se das historias

 

de seu avo

 

Jesus menino

 

sentia

 

que também vivera

 

o mesmo.

 

 

LXIII-

 

 

 

Em sua memória

 

 de jesus menino

 

em sua genética

 

história.

 





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