A SENHORA MAURA
Sou negro brasileiro, filho da mistura e miscigenação das três
etnias formadoras de nosso povo.
“- O índio, o europeu e o branco português e o negro
africano”.
Sou mulato, mas não gosto desta palavra, pois remonta mais
de quinhentos anos de escravidão, palavra que deriva de mula, animal híbrido e
que não pode gerar descendentes por se filho do senhor com sua escrava negra e
não ser aceito nem pelos brancos e muito menos pelos escravos, passava então a
ser o capitão do mato ou capataz de gado e de toda gente.
Venho aqui dizer e
falar, ou melhor, agora escrever que meus antepassados negros não foram
escravos, mas sim escravizados.
Meu avo Belmiro Rocha nasceu em 1889 na Bahia, portanto
oficialmente liberto, pois a Lei Áurea fora assinada um ano antes de seu
nascimento e como um dia ele mesmo me disse que seus pais não nasceram escravos,
mas todos juntos com sua nação africana foram barbaramente escravizados e
trazidos para o Brasil.
O sangue que corre em minhas veias é a mistura de três
etnias: me avo negro, pai de minha mãe, minha avó, índia de Matogrosso, mãe de
meu pai, minha querida avó Senhorinha Alves Piedade e minha avó Tereza de
Guzzi, mãe de minha mãe, italiana da velha Sicília, portanto sou um autentico e
genuíno filho da miscigenação brasileira,
E hoje, o que dos Rochas, negros e baiano, irá propor e
escrever um nova História, não mais o escravo negro e passivo diante de sua
condição escrava como se a escravidão fosse algo natural e justo.
Não quero mais assistir a novela tão famosa e mundialmente
conhecida: A escrava Isaura, pois meus antepassados não eram escravos, mas sim
foram escravizados e trazidos pela força e amarrados em correntes como se
fossem cosias e objetos e como justiça e não vingança, eu irei escrever uma
nova e melhor novela, A SENHORA MAURA!
E ela passará em meu canal todos os santos dias e em todo
capítulo, Maura irá dizer assim:
Trezentas chibatadas no mínimo a Leôncio por insubordinação
e não quer me servir.
Trezentas no mínimo e seu nome não será a escrava de alma
branca Isaura, mas sim, minha linda, negra e formosa sinhazinha: A SENHORA
MAURA
João do Gueto
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